Dia dos Povos Indígenas: veja como é a rotina em uma aldeia na 3ª maior cidade com população indígena de SP

  • 19/04/2025
(Foto: Reprodução)
O g1 visitou duas aldeias indígenas em Barão de Antonina (SP): Txondaro Tekoá M’bae e Karugwa. Elas trazem atividades como canto, dança, produção de artesanato e duas escolas estaduais com professores de origem indígena. Veja como é a rotina em uma aldeia na 3ª maior cidade com população indígena de SP Em Barão de Antonina, no interior de São Paulo, duas aldeias indígenas preservam tradições ancestrais ao mesmo tempo em que oferecem serviços essenciais como educação, saúde e atividades culturais para seus moradores. O município ocupa a terceira posição em número de indígenas no estado e abriga 134 pessoas autodeclaradas indígenas, o que representa 3,79% da população local, segundo o Censo 2022 do IBGE. 📲 Participe do canal do g1 Itapetininga e Região no WhatsApp Em alusão ao Dia dos Povos Indígenas, comemorado em 19 de abril, o g1 visitou as comunidades para mostrar como é a rotina, as histórias, os costumes e a força dos povos originários que vivem por lá. As aldeias Txondaro Tekoá M’bae e Karugwa estão localizadas no território de Barão de Antonina, no interior de São Paulo, desde 2005. As duas comunidades contam com escolas estaduais e têm na caça, pesca e produção de artesanato suas principais formas de subsistência. Indígenas da aldeia Txondaro se reunem para dançar e pedir bençãos para o dia Pâmela Beker/g1 Aldeia Txondaro Tekoá M’bae Com 38 moradores, a aldeia Txondaro Tekoá M’bae, que em tupi-guarani significa “aldeia dos guerreiros”, abriga pessoas de 1 a 59 anos, todas vivendo no território e com recursos financeiros próprios. Ronald Natan de Lima, de 32 anos, é professor e também cacique da aldeia. Segundo ele, sua principal função é cuidar da comunidade e zelar pelos moradores, papel que considera o ponto forte do grupo. A rotina de Ronald começa cedo: das 7h às 12h ele leciona na escola local, e no período da tarde costuma jogar futebol, caçar, praticar arco e flecha ou se deslocar até o centro da cidade para resolver pendências na prefeitura. VEJA TAMBÉM MAPA: Ribeirão Branco é a terceira cidade do estado com menor índice de arborização, aponta IBGE Cacique Natan da aldeia Txondaro faz pintura tradicional no rosto de criança Pâmela Beker/g1 Para a reportagem, ele explicou que a aldeia realiza atividades de subsistência como a caça, pesca, plantio e colheita de mandioca, além da produção de artesanatos. Segundo Natan, os planos futuros para a aldeia envolvem fazer um campo para as crianças brincarem, aumentar o espaço da aldeia e ampliar a escola. Sobre a responsabilidade de ser indígena, ele completou dizendo que é algo pesado, pois carrega as histórias contadas por seus antepassados, marcadas por muito sofrimento, violência e preconceito. “Muitos têm preconceito, já olham com um olhar diferente. Às vezes a pessoa nem disfarça o olhar, uma vez ouvimos que além de ser índio tinha que ser preto”. Ainda segundo o cacique, é muito importante fortalecer essa vivência e tradição com as crianças, e também mostrar para elas como era antigamente a vida de um indígena. Sobre as crianças terem acesso a tecnologia, ele explicou que muitos pais colocam regras de horários, para que os mais jovens tenham mais tempo livre na aldeia para fazer atividades como artesanato, estudar e brincar. Trio de crianças estudantes na aldeia Txondaro em Barão de Antonina (SP) Pâmela Beker/g1 Orgulhosos de suas origens, Rebeca da Silva, de 7 anos, Mirela Mendes Vargas, de 6, e Bryan Oliveira, de 10, falaram à reportagem sobre o que significa crescer em uma aldeia indígena. Moradores da comunidade, os três frequentam a escola local e contam que gostam de aprender o tupi-guarani, além de participar das aulas com danças, músicas e costumes tradicionais, ensinados pelos próprios professores. Fora da sala de aula, eles se divertem em casa assistindo à televisão, jogando bola no campo, fazendo artesanato, treinando a língua indígena e brincando com chocalho, zarabatana, arco e flecha. Quando o assunto é o futuro, Mirela sonha em ser professora, enquanto Bryan e Rebeca desejam seguir a carreira da medicina. Na aldeia, também é possível encontrar peças únicas e artesanais produzidas pelos moradores. O vice cacique, Valdeir Lima, artesão há 16 anos, produz arcos, flechas e zarabatanas. Ele explicou que os colares são feitos de sementes colhidas das árvores e as peças mais delicadas como filtro dos sonhos, pulseiras e brincos ficam sob responsabilidade das mulheres na aldeia. Valdeir explicou que o processo de produção dos artesanatos é demorado, principalmente devido à preparação dos materiais. Um exemplo disso é a bolsa feita com a pele do quati, utilizada para carregar objetos, cujo acabamento é lento devido à complexidade do tratamento da pele. As peças são vendidas por preços que variam de R$ 10 a R$ 1.000, tanto para visitantes na aldeia quanto em feiras realizadas no município e em cidades vizinhas como Sorocaba e Itapetininga. Além disso, os artesanatos são comercializados durante apresentações culturais em escolas. Artesanatos feitos por indígenas moradores em aldeia de Barão de Antonina (SP) Pâmela Beker/g1 Em uma apresentação para o g1, os indígenas da aldeia mostraram uma dança tradicional feita em agradecimento ao seu deus, Nhandru. Segundo os moradores, esse ritual é uma forma de pedir bênçãos e forças, mas também existem danças e músicas dedicadas a pedir livramento e superação de momentos difíceis. As canções, cantadas em tupi-guarani, falam sobre a natureza, os pássaros e os rios. Embora os cantos e danças façam parte da rotina da comunidade, não são realizados diariamente. Durante esses momentos, as crianças acompanham e aprendem a cantar e dançar, absorvendo o significado profundo dessa prática ancestral. Jussara Mariano, de 40 anos, Isabel Lima, de 22 anos, e Cristine Izau, de 36 anos, são professoras e moradoras da aldeia. Elas compartilham que a rotina delas inclui dar aulas e trabalhar na produção de filtros dos sonhos, colares e brincos. No entanto, dentro da aldeia, todos os trabalhos são comunitários e cooperativos, envolvendo a colaboração de todos, tanto na escola quanto em outras atividades. As professoras destacaram que seu papel é incentivar as crianças a desenvolverem as atividades culturais indígenas. Embora não proíbam o uso da tecnologia, elas tentam integrar o aprendizado digital ao dia a dia, sempre buscando manter o equilíbrio e preservar as tradições culturais. Jussara Mariano, Isabel Lima e Cristine Izau, são professoras e moradoras na aldeia Txondaro Pâmela Beker/g1 Ainda sobre ser uma mulher indígena, elas reforçam que estão em um processo de resgate cultural de suas raízes, se esforçando para repassar aos mais novos o que foi aprendido com seus antepassados. Mas que na sociedade, ainda existe um preconceito com a mulher de origem indígena e que atualmente elas ocupam um papel de liderança, mãe e profissional, um local que não era ocupado antigamente. Aldeia Karugwa Alunos da aldeia Karugwa acompanham aula com professor indígena Pâmela Beker/g1 A apenas 800 metros da aldeia Txondaro Tekoá M’bae, a aldeia Karugwa abriga 150 indígenas e é um centro de atividades voltadas para a agricultura familiar, agroflorestas e o desenvolvimento cultural, como dança, canto e artesanato. Desde 2005, a comunidade conta com uma escola estadual de período integral, onde 20 alunos estão matriculados e 19 professores atuam. A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo informou que, conforme a Resolução SEDUC 83/2024, as matrizes curriculares para a Educação Escolar Indígena, tanto nos anos iniciais quanto finais do ensino fundamental, incluem os componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Parte Diversificada. No ensino médio, além de ensinar língua indígena, também são abordados saberes tradicionais como parte do itinerário formativo, com ênfase no tupi-guarani. A escola da aldeia conta com duas salas de aula, uma de educação infantil e duas de ensino fundamental, além de uma área para leitura, informática e um laboratório ao ar livre dedicado às atividades culturais. Eder de Lima, 42 anos, professor e morador da aldeia, começou a sua trajetória com a educação para trabalhar na aldeia, ele atua como professor no local há oito anos. Mas para ele, ser um indígena não é uma responsabilidade de peso, mas sim de luta. “Eu falo luta. Desde 1500, a nossa luta tem sido muito grande. Se não fosse nosso movimento em Brasília, em qualquer parte do Brasil, nós não estaríamos mais aqui, o que nos mantém hoje fortalecidos é a nossa união”, completou Eder. De acordo com Eder, ele sempre orienta as crianças a buscarem formações como advogados, doutores e professores, e nunca deixar de obter conhecimento, para saber seus direitos e ter uma posição na luta indígena. O professor pontuou que conhecimento é poder.. “Nós temos que manter o nosso pé firme no chão porque não pode desistir. Eu luto hoje pelas crianças. Os demais que estão na aldeia, os mais velhos, lutam também pelas crianças, eles são o nosso futuro.”. Para o professor, o dia 19 de abril representa a luta deles, existe uma comemoração, mas relembrar que existe uma luta existente desde os seus ancestrais. Eder Lima, de 42 anos, professor na aldeia Karugwa em Barão de Antonina (SP) Pâmela Beker/g1 “A gente quer ter as nossas partes de terra. A gente quer ter o nosso rio. A gente quer ter nossa criança livre, brincando. A gente não quer ter as crianças presas, porque hoje está perigoso se elas saem fora da aldeia. As pessoas têm que ter a visão lá fora de que nós não somos um povo ruim, nós somos um povo de paz”. Wagner Antônio, de 63 anos, atua como diretor da escola na aldeia Karugwa e na educação há 22 anos, ele não é uma pessoa de origem indígena, e comentou que pediu permissão para os moradores da aldeia para assumir o cargo. Ele assumiu a cadeira em dezembro de 2022, e conta que foi um momento único, pois poucas pessoas têm a chance de conviver com uma cultura tão rica. Wagner ainda pontuou que, mesmo com a saída dos alunos para outra escola no ensino médio, eles continuam participando das festividades dentro da aldeia, mostrando a importância e a força da cultura indígena. “Nós formamos indígenas para ser advogado, médico e dentista. Ocupar outros lugares e não deixar o lugar dele como indígena”, completou. Escola estadual da aldeia Karugwa em Barão de Antonina (SP) Pâmela Beker/g1 *Colaborou sob a supervisão de Carla Monteiro Veja mais notícias no g1 Itapetininga e Região VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM

FONTE: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2025/04/19/veja-como-e-a-rotina-em-uma-aldeia-na-3a-maior-cidade-com-populacao-indigena-de-sp.ghtml


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